8 de junho de 2009

PSD eufórico com a vitória esmagadora da abstenção. E o futuro?

A derrota do PSD+CDS/PP em 2004 acabou por ser mais grave: na altura, o PS teve mais 4 mandatos, hoje PSD+CDS/PP têm mais 3 que o PS. A vitória do PSD foi alcançada com uma percentagem fraca e este partido está demasiado eufórico. A abstenção foi elevadíssima e os votos brancos aumentaram quase 100 por cento. Mas, claro, a derrota do PS foi surpreendente. Depois de uma campanha socialista mais mobilizadora e depois do PS apresentar uma lista de candidatos mais conhecidos do que os do PSD, as sondagens são todas contrariadas, quanto aos resultados do PS e do CDS/PP.
Em momentos de crise, a história repete-se: as forças extremistas/populistas, sobem ou resistem. Neste caso, as da CDU e do BE, já previstas, e a do CDS/PP, em Portugal, ou as de Berlusconi ou Sarkozy, etc. A maioria dos Governos em exercício são penalizados, como começou por acontecer nos EUA e aconteceu ontem por toda a Europa. No geral, infelizmente, não houve a percepção clara de que as receitas conducentes à crise tiveram origem num ideário de direita. Na crise, os partidos não possuem receitas eleitorais infalíveis, é tudo demasiado volátil.
Falou-se muito pouco da Europa. Lembro-me que Vital Moreira tentou colocar à discussão uma velha proposta, o imposto europeu, parecido com a taxa Tobin que o BE antes defendia, e desatou logo tudo aos gritos... Hoje só se referem às consequências caseiras dos resultados de ontem. Hoje ninguém fala da UE, um dos projectos mais extraordinários da história das nações, onde se consolidou a maioria da direita que trouxe a crise.
Acredito que as pessoas que não foram às urnas terão outra motivação quando estiver em causa a governabilidade de um país pobre, com falta de qualificação das pessoas e das organizações, com um Estado insuficiente. Será que os portugueses querem que Ferreira Leite represente Portugal? Será que os cidadãos portugueses quererão a esquerda comunista a fazer um segundo PREC?
Há uma missão do "povo de esquerda". Temos de compreender o fenómeno de fragmentação da esquerda que levou ao estado lastimoso, por exemplo, da esquerda francesa. Não podemos permitir o surgimento de uma paisagem política à francesa, com uma direita instalada e sem oposição. Opções à esquerda(?) - foram bloquistas que chamaram "traidor" a Vital na Manifestação de 1 de Maio, "traidor" por deixar de ser comunista...

11 comentários:

Joana Pinto disse...

Subscrevo inteiramente este post.Votei em consciência naquele que me parece ser o mais europeísta de todos os partidos protugueses:o PS.
Mesmo em dia de trabalho, levantei-me mais cedo para ir votar, direito que jamais cederei!
Já no trabalho, incentivei todos ao voto, mesmo colegas da minha idade que se abstiveram pelas mais variadas razões. Apesar dos meus esforços (até boleia ofereci!) a abstenção venceu e, claro, favoreceu a extrema esquerda que tem os eleitores mais fiéis, e a direita, emergente aliás em toda a Europa. E aqui começa o meu maior receio: uma Europa de extremos...Que perigo!
Para terminar, queria felicitar-vos pela campanha, tal como o fez, ontem, o Secretário-Geral do PS num discurso coerente e bem distinto de todos os outros partidos. Foi até mais audaz, pois deu, em directo, uma lição de educação e de civismo aos jornalistas que se atropelavam...
Começou ontem, assim, a campanha para as legislativas e já deu, parece-me, para ver quem tem mais capacidade para governar...

Bruno Julião disse...

É verdade, também achei a intervenção e postura do Sócrates muito madura e inteligente.

Bruno Julião disse...

E permita-me a "Ameijoa marafada", do Algarve, publicar o seu comentário à análise do Publico online:
"Yuupii! Estão de regresso os bons velhos tempos do PSD! Vamos ter de novo a gentileza e aumentos de ordenados que a Manuela deu quando era Ministra das Finanças, viva!! E aí está a gestão impecável de Santana Lopes, a transparência de Dias Loureiro, mil vezes viva que até vamos rebentar de tanta felicidade, tanto dinheiro nos bolsos, tanto professor contente a dar aulas sem piar, tanta paz nas ruas porque as manif´s do Nogueira e Compª Ldª vão terminar! Ontem foi um dia que anuncia felicidade geral, baixas de impostos, emprego para todos os desempregados, mais massa nos bolsos, como sempre sucedeu com o PSD e o PP no Governo! Muito feliz está também o Sr.Louçã porque finalmente vai dar o Governo ao irmão do seu companheiro, o Portas, sempre fica tudo em família! Obrigado ao Bloco por ter lixado o PS e não querer fazer Governo com ninguém, é assim mesmo! Que felicidade! Que belo País vem aí a caminho! Viva, viva, viva!!!"

Pudim disse...

Paulo Rangel representa um rosto novo na política, não comprometido com governações anteriores. Revelou-se capaz de adequar os discursos mediante a diversidade de auditórios e conseguiu jogar, no palco oferecido pela comunicação social, com algum pretensiosismo inábil em que Vital Moreira caiu por diversas vezes. De resto, apesar de alguma surpresa, não causa espanto que o eleitorado, em circunstâncias muito difíceis, puna os partidos do governo, como aconteceu um pouco por toda a Europa. O PSD perdeu as eleições europeias de 2004 dois anos após ter assumido o poder, num contexto económico muito menos adverso do que aquele em que estamos hoje em dia. Parece-me precipitado o lançamento dos foguetes e a abertura das garrafas de champanhe que o PSD faz por estes dias. Manuela Ferreira Leite, contrariamente a Paulo Rangel, já tem currículo governativo e as experiências social-democratas em S. Bento não têm sido propriamente as mais brilhantes. Este resultado só deve trazer ainda mais firmeza a José Sócrates, que, na minha opinião, não é inocente quando aposta em figuras potencialmente perdedoras (Mário Soares e agora Vital Moreira) que nunca ameacem o seu estatuto de seguro rosto do PS. Governar com espírito reformista, mexendo com imensos interesses corporativistas cria diversos anticorpos, que, conjugados com os infelizes ventos internacionais de crise, torna o caminho do primeiro-ministro bastante árduo. No entanto, como já provou por diversas vezes, José Sócrates saberá mostrar por que razão merece mais quatro anos de confiança por parte dos portugueses.

Unknown disse...

Sem dúvida que a motivação para acabar com aqueles que provocaram o desgoverno será ainda maior. Nesta, não se deram ao esforço. Na próxima, com o sufragar de 4 anos que deixaram isto no estado em está, a motivação será tremendamente maior.
Sobre o futuro, os portugueses têm vindo a responder: e Sócrates não está nos planos.

Bárbara Quaresma disse...

É verdade que as receitas conducentes à crise tiveram origem num ideário de direita, ideário esse do PS actual, portanto!

Bruno Julião disse...

Pois, só que afirmas isso de forma tão mecânica que te esqueces que o PSE tem a minoria no Parlamento Europeu, onde a maioria das políticas foram e vão continuar a ser decididas pelo PPE. Foram inúmeros os dossiês progressistas do PSE adiados ou boicotados pelo PPE. É preciso saber do que estamos a falar... ;-)

Anónimo disse...

Bruno:
Até 2005 votei PS e Sócrates.
Em 2009 votei e votarei. Mas não no PS e em Sócrates. Sou professor... tenho dignidade!

Anónimo disse...

Joana: por muito que nos custe o perigo hoje está é no centrão.
Ao que nos conduziu a arrogância despótica do "afinal-parece-que-não-engenheiro" José Sóctares!...

Bruno Julião disse...

O grau académico do primeiro-ministro nada tem a ver com a Europa...
O PSE apresentou dossiês sobre horas de trabalho, licença de paternidade, direitos dos emigrantes (contra a Directiva de Retorno), etc, etc... que foram, repito, boicotados ou estrategicamente adiados pela direita do PPE. Isto é na prática a oposição direita-esquerda no PE.
Entristece-me esta constante fuga ao debate sobre o projecto europeu... porque quanto à política interna, teremos oportunidade para fazer o balanço e ir debatendo noutros tópicos e posts.

Unknown disse...

É certo. O grau académico do PM nada tem a ver com a Europa. O grau do PM e a forma como o obteve tem mais a ver com os portugueses. Na outra Europa - mais séria - já não seria PM.

Pelos vistos, o eleitorado europeu acha imensa piada aos dossiês "progressitas" do PSE, mas para forrar o caixote do lixo.