21 de novembro de 2008

Avaliação dos Professores

Os professores são um corpo especial, uma classe profissional altamente heterogénea, num país com escolas muito diferentes e com uma complexa gama de propostas de percursos escolares. Por isso é que os professores não são contemplados pelo Sistema Integrado de Avaliação da Administração Pública (SIADAP). Com efeito, não é certamente fácil construir um regimento para avaliação dos professores. Por outro lado, é dever de um grupo ministerial especializado fazê-lo sem erros técnicos e com conhecimento cabal do mundo real das escolas.
É evidente que as reformas são mais difíceis de concretizar e, por vezes, tornam-se injustas, quando a maioria dos seus destinatários está contra. Mas vamos imaginar que, agora, sempre que há vontade de criar uma legislação para determinada classe profissional, particularmente na Educação, os destinatários já sabem o truque: não cumprir a lei. Isto é perigoso. Tem que se encontrar um ponto de equilíbrio e os partidos políticos que se associem à FENPROF têm de justificar bem a sua posição. Neste momento é importante que ninguém extreme posições, nem o Ministério, nem os parceiros educativos. O bom senso tem de imperar e se a FENPROF abandona outra reunião ou só falar se houver uma proposta de suspensão não sei se representará os professores e assim realmente não vale a pena ser chamada de “parceiro”… Mário Nogueira, militante comunista de referência, que conheci bem e com quem trabalhei no associativismo académico, é um manipulador nato e os seus jogos de palavras são suficientemente argutos para mobilizar. Penso que tem demonstrado um comportamento excessivamente arrogante e até mal-educado em determinadas ocasiões. O Ministério também não terá sido feliz na forma como reagiu a algumas manifestações.

Por seu turno, o objectivo dos partidos que imitam o discurso da FENPROF é óbvio: provocar consequências na imagem do governo por razões eleitoralistas. É claro como água, pelo menos por parte do PSD que tem muitos militantes a favor das políticas deste Ministério da Educação. É preciso conhecer as propostas ou os modelos concretos que os partidos defendem. Não basta contestar, com ideias muito, muito vagas. Nunca lhes ouvi um discurso com propostas de alteração ao que consideravam errado na Lei, pois é mais fácil dizer “há outros modelos”, “nem que seja piores, mas há outros”, como há dias deixou escapar Manuela Ferreira Leite.

Na minha opinião, a Lei não pode ter um carácter exclusivamente formativo e não ter implicação na progressão e nas candidaturas. A FENPROF sugere que caso um professor tenha um Insuficiente não progrida na carreira, mas quando voltar a ter uma avaliação que lhe permita progredir, recupera, automaticamente, os anos que não progrediu por avaliação insuficiente. Ora, isto é estupidamente injusto e serve muito pouco o ensino. E, já agora, ao contrário da FENPROF, concordo com a observação das aulas, com a implementação de quotas para as melhores classificações, com a atenção à assiduidade, com o contemplar de aulas assistidas na avaliação (as mínimas possíveis), etc.

Os pais que estão contra, é pela simples razão de que querem paz nas escolas, não é porque concordam com a FENPROF. Julgo que a esmagadora maioria é naturalmente favorável à avaliação, até porque muitos são avaliados no seu trabalho e querem que os educadores dos seus filhos também o sejam, o mais rápido possível…

É claro que a proposta governamental tinha problemas, vou tentar mostrar o meu ponto de vista sobre alguns:

Problema A: excessiva complexidade das fichas, carga burocrática e tempo exigido para a avaliação.
Contexto: Se tivermos em consideração a quantidade e complexidade de mecanismos e procedimentos a despoletar (observações, entrevistas, reuniões...) há/havia uma despropositada carga burocrática. A pressão que se exerceria sobre os professores, em particular nos momentos em que se desencadeia o processo de atribuição das classificações, seria um relevante factor de instabilidade, com reflexos na sua prática lectiva, bem como em todas as restantes tarefas que fazem parte das suas funções; os docentes avaliadores, seriam ainda mais pressionados, pois enquanto avaliam estão, igualmente, a ser avaliados e, simultaneamente, continuariam a ter de desenvolver toda a actividade lectiva e não lectiva que lhes está atribuída, inclusive os presidentes dos conselhos executivos. Reuniões para a fixação de objectivos de avaliação, aulas assistidas, registos anuais, acções de formação, preenchimento de fichas, entrevistas individuais, decisão sobre a aplicação das "cotas" são alguns dos procedimentos que deixariam pouco espaço para uma prática lectiva com a qualidade que se exige. Isto tudo, até porque os procedimentos classificativos têm um calendário apertado.
O modelo de avaliação reveste-se de enorme complexidade e é objecto de leituras por vezes difusas há ainda falta de informação cabal e inequívoca às perguntas que vão, naturalmente, aparecendo; Aliás, a Ministra admitiu que ouve erros técnicos na elaboração da lei. Os itens constantes das fichas têm de ser simplificados, até porque alguns não são passíveis de serem preenchidos.
Medidas apresentada pelo Ministério:
Rever e simplificar as fichas de avaliação e auto-avaliação, bem como os instrumentos de registo;
Dispensar as reuniões entre avaliadores e avaliados em caso de acordo tácito (quer sobre os objectivos individuais, quer sobre a classificação proposta);
A observação de aulas fica dependente de requerimento dos interessados e é condição necessária para a obtenção da classificação de Muito Bom ou Excelente;
Reduzir de três para duas o número mínimo de aulas a observar, ficando a terceira dependente de requerimento do professor avaliado;
Simplificar o regime de avaliação dos professores avaliadores e compensar nos respectivos horários a sua sobrecarga de trabalho.

Problema B: avaliadores que avaliam professores de outras áreas curriculares
Medida do Ministério: Garantir que os professores são avaliados por avaliadores da mesma área disciplinar.

Problema C: usar resultados de alunos e taxas de abandono na avaliação
Contexto: discordava também da utilização dos resultados dos alunos e o abandono escolar como itens de avaliação pela simples razão de que são indicadores injustos para escolas em meios mais desfavorecidos. As fórmulas previstas para minimizar este cenário (ter em consideração as notas do ano transacto, as notas às outras disciplinas, etc), minimizam, mas não eliminam este potencial cenário de desfavorecimento. Porque, caso contrário, se vivêssemos num país igual em todo o lado, também seria a favor de contabilizar este item para efeitos da avaliação.
Medida do Ministério: Dispensar, neste ano lectivo, o critério dos resultados escolares e das taxas de abandono, tal como recomendado pelo Conselho Científico da Avaliação dos Professores.

Por fim, não podemos dizer que este Ministério não ouve e não recua, acho que está mais que provado que isso é falso. Mais, está, no cômputo geral, a fazer um bom trabalho em várias áreas e não é fácil aparecer um Ministério da Educação que percebe sobre algumas coisas que a nossa Educação precisa. Houve, com este Ministério, uma diminuição da taxa de saída precoce no Ensino Secundário e da taxa de retenção no Ensino Secundário e no Ensino Básico; o número de alunos em cursos profissionais públicos quase que quadruplicou, representando quase 40% do total da oferta; 500.000 pessoas inscreveram-se voluntariamente no Programa Novas Oportunidades; houve um aumento histórico do número de alunos no Ensino Secundário e no Ensino Superior; houve um o aumento da oferta de Cursos de Especialização Tecnológica no Ensino Superior ou o reforço do número de alunos com mais de 23 anos; criaram-se as Actividades de Enriquecimento Curricular no Ensino Básico; ofereceram-se computadores a baixo preço para todos os estudantes; houve um reforço do apoio no abono de família; houve descontos de 50% nos transportes públicos para os estudantes, etc, etc…
Era importante que este trabalho não se “perdesse”, por causa da avaliação dos professores…

9 comentários:

Anónimo disse...

Meu caro,

gostei do teu post, contudo devo-te dizer que nem toda a gente vai ter paciencia para o ler. Reduz isso um pouco.

Já agora, esta ministra é a melhor ministra da Educação que o nosso pais ja teve. VIVA a Avaliação aos Professores.

Abraço

Joao Silva

Pudim disse...

Concordo com o que diz o meu amigo. E nem sequer manda um urruzinho no fim que arruine o texto todo. Muito bem!

Bárbara Quaresma disse...

Ó Bruno, não é por se terem matriculado mais estudantes no ensino secundário e superior que a formação académica dos portugueses está em crescente evolução. Quantidade não é sinónimo de qualidade, e todos nós sabemos que não é por se ter o 12º ano ou um curso superior que se sabe mais do que outros com menos habilitações. Muito sinceramente, até acho que o ensino tem entrado no facilitismo, até mesmo o superior. Qualquer pessoa hoje tira um curso (e com boas notas até).

Quanto às Novas Oportunidades, é de louvar a essência do programa: dar uma segunda oportunidade a quem, por razões de natureza diferentes, não continuou a estudar. Mas sejamos sérios e honestos e confiramos exigência a esses cursos. Não é dar um diploma só por dar, para não continuarmos na cauda da Europa no que confere à formação académica.

Em relação aos computadores, totalmente em desacordo. Primeiro deveria dar-se aos alunos os manuais escolares e outro tipo de materiais imprescindíveis à sua aprendizagem. Os computadores só viriam depois, se é que teriam de vir.

No que às AEC'S diz respeito, não me vou alongar muito. Dizer apenas que a ideia foi boa, mas que a sua execução continua a ser um desastre em várias escolas. Para começar deveriam ser actividades de frequência obrigatória, deveriam seguir todas um mesmo programa e só serem contratados professores com formação relevante na área para as ministrar. Enquanto assim não for, meio mundo vai continuar a encarar as AEC'S como mais uma ocupação de tempos livres. E nós, em vez de professores, continuaremos a ser monitores.

Bruno Julião disse...

Parece-me injusto o discurso de as propostas "são boas, mas..." (aec's, novas oportunidades, programa e-escola e e-escolinha), pois estas medidas, apesar de terem problemas pontuais (concordo com alguns aos quais aludiste), pela sua essências são, diria, revolucionárias. O problema é que, já percebemos, ser assim "revolucionário" na Educação é terrivelmente difícil...

nota: quanto aos manuais escolares, parece que se está a trabalhar nisso...

Pudim disse...

Ó Bárbara, o discurso do imobilismo devia estar confinado às reuniões do comité central do PCP ou aos ajuntamentos dos "professores" da FENPROF. Mais alunos no superior significa maior facilitismo? O Programa Novas Oportunidades é uma farsa de atribuição gratuita de certificados? Os cursos profissionais são uma desculpa de mau pagador para evitar as taxas de abandono? Isto para mim é simples discurso do "ai é para mexer? estou contra!" Obviamente que a aplicação de reformas implica falhas processuais, avanços e recuos. Ninguém pode estar à espera que uma ideia surja e seja aplicada sem que haja problemas. A necessidade de convergência com as metas europeias levou este governo a tomar um conjunto de medidas que só têm favorecido as pessoas, os alunos, as famílias, os adultos em busca de novas qualificações. O programa e-escolas tem proporcionado o contacto com as TIC a jovens que, de outra forma, não teriam um computador tão cedo; o alargamento da acção social escolar a quatro escalões do abono de família leva a que todos possam estudar com um mínimo de dignidade e de garantias; o programa novas oportunidades proporciona aos adultos uma reaproximação ao mundo da aprendizagem que beneficia as pessoas a nível individual mas também as empresas e serviços no que diz respeito à formação dos seus activos; o incremento do ensino profissional tem garantido a "salvação" de milhares de vidas que já estavam praticamente condenadas à marginalidade e à deliquência...Tudo o que acabei de dizer tenho a felicidade de poder comprovar diariamente e, portanto, só posso aplaudir o que tem sido feito a nível educativo em Portugal nos últimos tempos. Quanto às AEC, nunca tive a oportunidade de trabalhar neste programa, mas pelo que me é dado a conhecer, tem proporcionado muita oportunidade de trabalho a jovens licenciados. Só por aí...

Pudim disse...

Esqueci-me de mencionar, a propósito dos manuais... o alargamento do ASE proporcionou às famílias de menores rendimentos (um leque vastíssimo) uma bolsa no valor de cento e muitos euros para aquisição de manuais no início do ano lectivo. Os alunos dos cursos profissionalizantes recebem em dinheiro essa quantia para adquirir material. Ainda assim, haverá quem diga que é dinheiro deitado ao lixo...

Bárbara Quaresma disse...

O que eu acho é que não basta apresentar algumas boas propostas, é necessário garantir o seu sucesso. E não deixar cair o ensino no facilitismo, pois vale mais um 9ºano como deve ser, que um mau 12ºano.

Joana Pinto disse...

Para além de concordar com a Bárbara em tudo o que diz (sobre facilitismo,magalhães,CNO e AEC) e de achar certas algumas considerações do B.Julião e do Pudim (porque afinal tudo isto é um pau de dois bicos!)deixo aqui uma opinião "sui generis" "made in" Brasil sobre a educação sexual...
http://caderno.josesaramago.org/2008/11/28/educacao-sexual/

E digo também que os professores hão-de morrer pela boca, como o peixe, pois o excessivo mediatismo vai, na minha opinião, sair-lhes caro...

Anónimo disse...

"O programa e-escolas tem proporcionado o contacto com as TIC a jovens que, de outra forma, não teriam um computador tão cedo;"
Ah!Ah!Ah!Ah!Ah... é que um computador faz os jovens serem mais adultos... Ah!Ah! Este pudim...flan, tem muita piada.